Gaúcha doutoranda em saúde coletiva veio ao Rio dar workshop para difundir ‘mindfulness’, método de concentração que se popularizou nos EUA e na Europa.
“Nasci no Rio Grande (RS), tenho 36 anos. Medito onde quer que seja. Se me encontrar sentada por aí com um olhar meio perdido e cara de paisagem, estarei meditando. Sim, na fila, no parque, na praia, onde der vontade. Afinal, estamos falando de um estado que se leva para a vida que se tem”
Conte algo que não sei.
A galera anda frenética, correndo para tudo e por tudo, com a mente perdida numa dimensão paralela chamada futuro e numa outra chamada passado, explodindo por qualquer coisinha. O mindfulness pode resolver.
No que a prática difere das meditações conhecidas?
É bem mais do que meditação. Atua no alívio de sofrimento e a ideia é estimular seu uso antes que seja urgente. A minha crítica é contra a panaceia desvairada. Há técnicas para todo mundo desde que respeitem a subjetividade.
Qual seria a tradução mais simples para mindfulness?
É um “estar pleno” com uma atitude acolhedora em relação a pensamentos, emoções e sensações, no aqui e agora, seja lá no que estivermos fazendo: trabalhando, estudando, se exercitando, meditando. Um estado de “prestar atenção” no momento sem julgamento, com abertura, curiosidade e amabilidade. Logo, não se trata apenas de desenvolvimento de foco ou concentração, e sim de um olhar mais expandido, um monitoramento contemplativo da vida. Portanto, o conceito é bem robusto e, por isso, demanda um repertório diversificado.
Como se pratica?
Com diversos tipos de meditação, com foco na respiração, no corpo, na imagem ou no movimento, e através do desenvolvimento cotidiano, por exemplo, sentar para tomar um café e se concentrar no sabor e na textura, tomar um banho e aproveitá-lo. É a pura simplicidade na prática.
Cientificamente falando, como atua em nosso corpo?
Atua na regulação emocional, na redução de sintomas depressivos e ansiosos, na melhora da qualidade de vida em pacientes com doenças graves, como câncer, dor crônica, problemas cardíacos, abuso de substâncias, além de todo impacto no cérebro, com a possibilidade de gerar mudanças anatômicas e funcionais.
Steve Jobs passou muito tempo num mosteiro zen, na Índia. A meditação seria a chave para o sucesso?
Para muitos, a meditação ou o mindfulness é uma ferramenta, mas se trata de um apelo midiático. Não praticamos para buscar resultados, efeitos, provocar estados. Praticamos por praticar. É subjetivo demais classificar o “sucesso”. Sucesso é estar em paz na adversidade. Quantos dólares vale o sossego? Afinal, todo mundo corre atrás, só mudam os objetos de valores e os estilos de vida. Todo mundo quer é ser feliz e aliviar o sofrimento.
Qual é o melhor horário para meditar?
Aquele em que estamos mais despertos. O processo meditativo é ativo, de estado de alerta.
Como o cérebro responde a este tipo de prática?
O cérebro se revelou muito mais plástico nos últimos anos. Estudos de Harvard evidenciam aumento da massa cinzenta em distintas regiões do cérebro, após dois meses de meditação, sobretudo no hipocampo, associado à memória, à aprendizagem e à regulação emocional.
Seria, portanto, um aliado também na busca pela cura do Alzheimer?
No Alzheimer, o hipocampo é uma das primeiras regiões do cérebro a diminuir, é a casa da memória e do aprendizado. Ainda não temos esse dado científico, nada que me permita afirmar com tanta segurança.
Confira a entrevista da Dr. Daniela Sopezki aqui.