Os livros de colorir invadiram as prateleiras e viraram item da moda. Basta escolher o seu e mergulhar nesse mundo imaginário.
Ele já pode ser considerado um trend, afinal se tornou sensação do momento na vida de muitos adultos que voltam à infância quando escolhem as cores que irão compor os seus livros de colorir.
A proposta surgiu com o “Jardim Secreto”, livro escrito pela escocesa Johanna Basford. A palavra “antiestresse” inclusa no subtítulo do livro entrega a ideia da autora. Segundo a doutoranda em saúde coletiva e instrutora de mindfulness Daniela Sopezki, se quando a pessoa estiver pintando, ela fizer desta tarefa uma oportunidade para observar o que passa pela mente, sem se deixar levar por elaborações secundárias, então ela poderá perceber como se sente, notando as sensações do corpo.
“Podemos dizer que a pessoa que pinta está envolvida com a tarefa num modo mindful, de estar naquilo que está fazendo, e desta forma, pela arte, tem a possibilidade de, por meio desta tarefa meditativa, desenvolver autoconsciência e insights”, explica.
Mas não se engane pensando que, em suas páginas, você encontrará simples desenhos esperando por um toque de cor. Cada desenho é uma surpresa nova e se aventurar por cada linha traçada é uma aventura única. Lucia Sales começou a pintar em 2014, e de lá para cá, são 5 edições completas, e cada vez que se depara com uma publicação diferente, ela entra em uma nova pintura, mas claro, nunca sem terminar a anterior. “Quando você começa a pintar, você passa para um mundo imaginário, mundo da criatividade. E esse processo de criação alivia qualquer sentimento ruim, momentos de tristeza, estresse. A pintura distrai muito, pois você entra em um processo gradativo de criação. Você começa de uma maneira e cria outras durante a atividade”, conta.
Color Fashion
E não era para menos, a moda também virou pauta desses queridos livros. Para quem gosta de andar por esse mundo, não pode perder, por exemplo, estampas retiradas diretamente da tecelagem Santaconstancia, da qual Costanza Pascolato é diretora de estilo. “Meu Caderno de Estampas”, da editora Planeta, traz uma seleção de patterns produzida pela grife. E para ficar ainda mais interessante, o livro tem dicas da própria Costanza de como se vestir com as estampas. O bônus extra fica para os moldes de roupa recortáveis. Divertido e fashion do começo ao fim.
Outro grande nome que entrou para a brincadeira foi o de Yves Saint Laurent, que tem um livro cheio de croquis, rascunhos, silhuetas e estampas para ser coloridas. “YSL: Prêt-À-Porter” é perfeito para os saudosistas da grife.
Ícones da moda também não ficaram fora da lista, a top Kate Moss virou ilustração. São 14 reproduções que relembram seus momentos marcantes em editoriais, como a capa da “Vogue Paris”, em que Kate encarna David Bowie, em clique de Níck Kright O livro “Colour Me Good Kate Moss Coloring Book” virou febre mundial!
XÔ estresse!
A fama é tão grande que os livros de colorir envolvem famílias, grupos de amigos… como é o caso de Mônica Freitas e Lanessa Mangabinha, mãe e filha, que aproveitam os momentos mais difíceis do dia a dia e descontam em muita criatividade nos livros. “Quando me sinto estressada, ansiosa, eu pego os livros e começo a colorir. Sempre escolho o desenho de acordo com o meu estado de espírito, com a inspiração do momento, não sigo a ordem colocada pelos livros. Quando termino, me sinto mais relaxada. A pintura me faz desligar dos problemas que me preocupam e pensar em coisas boas”, fala Mônica.
“Embora eu não pinte todos os dias, ela veio como uma terapia. Eu me sinto tranquila quando pinto, me sinto leve. Normalmente, eu vou para o quarto de minha mãe e ficamos as duas conversando sobre as coisas do mundo e pintando. Foi uma forma deliciosa de passarmos o tempo juntas e colocarmos o papo em dia”, complementa Lanessa.
Em meio a tanta tecnologia e tanta praticidade, voltamos a trabalhar habilidades que exigem paciência e atenção e dedicação aos detalhes, pontos que são normalmente esquecidos na rotina atual das pessoas.
Tudo o que envolve trabalho manual ou arte também estimula a criatividade e a concentração. Quando se trabalha com cores, o resultado é ainda melhor, já que elas podem provocar diversas sensações, como calor, frio e tranquilidade.
Mas é preciso deixar o celular de lado, reduzir estímulos visuais, sonoros… para se aproximar muito de uma prática meditativa mais profunda. O livro pode servir como uma terapia, desde que dirigido para isso. Na arteterapia, todo conteúdo da experiência do cliente que surge, desde a criação dos desenhos, escolha das cores, temas desenhados e materiais utilizados, serve de recursos para entendermos um pouco mais de nós mesmos. Se a pessoa alcançar esse grau de entendimento sozinha, ótimo, mas arteterapia é muito mais do que pintar um desenho pronto. Embora esses livros despertam a curiosidade do pintor, porque os desenhos vão revelando mais imagens dentro deles, o que importa, em si, é como me relaciono com a tarefa de pintar. Um livro não poderá fazer milagres”, ensina Daniela.
Nas capas dos livros, vêm os apelos “mindfulness”, “antiestresse”, “arteterapia’, mas podem não garantir esse propósito, se não estivermos verdadeiramente ali na missão de pintar com atenção, sem julgamentos, com curiosidade e aceitação de sua experiência, para chegar a insights, requisitos básicos para chamar algo de terapia
“A pintura pode ser uma via para se expressar ajudando a exercitar a criatividade e a obter autoconhecimento, desde que a pessoa se proponha a isso. Os benefícios da prática podem ser realmente diversos: tranquilizar, relaxar, organizar o turbilhão de pensamentos e emoções quando estamos muito agitados, divertir, promover uma pausa, detox mental, esquecer as preocupações do dia a dia, foco, disciplina, estimular a atenção e a concentração, coordenação motora, e outras funções cognitivas, criatividade, imaginação”, complementa Daniela.
Livros de Colorir
E se você se rendeu e já encontrou o seu livro e tema preferidos, que tal compartilhar tudo isto no Instagram? Lá, você pode aproveitar para expor o seu lado pintor e ainda conhecer o que as pessoas têm feito pelo mundo todo. Explore novas cores, novas técnicas. Veja o mundo de uma outra forma, assim como a psicóloga Fernanda Holder: “Fico observando cores, pensando na harmonia delas, isso me inspira nos meus próximos desenhos que vou colorir. Vejo o mundo muito mais colorido”. A interação entre os usuários de livros e redes sociais deixaria qualquer Picasso com inveja.
Por Ana Carolina Contri
Veja a revista aqui (página 50-53)